O que é?
A Acupuntura é uma terapêutica reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (1).
Consiste na aplicação de um estímulo, geralmente com agulha (acus), em um ou vários pontos especificos da pele.
É uma técnica terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa.
A Acupuntura Veterinária é uma técnica da Medicina Veterinária Tradicional Chinesa (MVTC).
A MVTC surge como um ramo da medicina tradicional chinesa durante a Dinastia Zhou (1027-771 AC) (2).
O objetivo da Acupuntura Veterinária é ajudar, contribuir para a recuperação da saúde e do bem estar do animal.
Agir ao nível da promoção da saúde e bem estar dos animais.
Doença Animal
De acordo com a MVTC a doença resulta de um estado de desequilíbrio do animal.
Retomar o equilíbrio é retomar o estado de saúde.
Em condições normais existe a capacidade de recuperação espontânea desse equilíbrio (saúde).
No entanto, por vezes, os fatores de doença esgotam a capacidade intrínseca de recuperação do equilíbrio (saúde) (3).
Nestas ocasiões, o animal não consegue sozinho, com os seus recursos fisiológicos recuperar o seu equilíbrio (saúde).
É então necessário intervir junto do animal, para o auxiliar a recuperar o seu equilíbrio, a sua saúde.
A Acupunctura Veterinária é uma das abordagens terapêuticas da MVTC.
Baseia-se na ação geralmente exercida através de agulhas, sobre um ou vários pontos específicos localizados no corpo do animal (pontos de acupunctura).
A seleção dos pontos de acupunctura é orientada pelo exame clínico e pelo diagnóstico.
A integração da informação clínica da MVTC e da Medicina Ocidental é fundamental.
A Acupunctura Veterinária é mais uma opção terapêutica.
De acordo com os casos clínicos poderá aplicar-se isoladamente ou em associação com outras terapêuticas.
Mecanismos de Ação
A acupunctura atua fundamentalmente através de dois mecanismos: neurológico e inflamatório (2).
Estes têm em comum o facto de se encontrarem alicerçados nos recursos fisiológicos do próprio animal.
O local de aplicação do estímulo, ou seja, o ponto de acupunctura tem características que o distinguem da pele adjacente, nomeadamente: menor espessura, maior concentração de terminações nervosas, maior número de vasos linfáticos, capilares e vénulas, maior número de mastócitos e menor resistência elétrica (pele adjacente 200 mil a 2 milhões de ohms vs ponto de acupunctura até 50 mil ohms) (2).
A teoria neurológica fundamenta-se em dois aspetos, na inibição endógena da dor e na teoria do sistema porta da medula espinal (2).
A acupunctura estimula em particular as fibras nervosas A delta.
Através destas os impulsos nervosos atingem o corno dorsal da medula espinal.
Aqui estabelecem sinapses com neurónios, permitindo que os sinais ascendam ao Sistema Nervoso Central, em particular ao tronco do encéfalo, hipotálamo e hipófise.
A este nível ocorre então em simultâneo a libertação de β endorfina e de serotonina.
É ativado também o sistema descendente inibidor da dor com a libertação neurotransmissores que bloqueiam a dor a este nível, nomeadamente a dinorfina, a encefalina e as monoaminas, serotonina e norepinefrina (2).
Segundo a teoria porta da dor, as fibras nervosas A delta ao nível da medula espinal realizam sinapses com interneurónios inibidores. Estes “fecham” as vias ascendentes da medula espinal, impedindo a progressão dos impulsos provenientes das fibras nervosas nocioceptivas lentas (fibras C) (2).
A teoria inflamatória explica como a acupunctura proporciona a diminuição da dor, em particular através do melhoramento da perfusão dos tecidos (2).
O microtrauma de curta ação causado pela agulha origina um pequeno processo inflamatório local, ocorrendo a libertação de mediadores da inflamação, entre os quais histamina e o óxido nítrico. Estes por sua vez levam a uma maior perfusão sanguínea na área do microtrauma (2).
A inflamação secundária à acupunctura proporciona também um efeito espasmolítico e imunoregulador dos tecidos (2).
Indicações Terapêuticas
A acupunctura aplica-se em inúmeras situações clínicas.
A seleção dos pontos de acupunctura depende do paciente, do caso clínico e das indicações de cada ponto.
A acupunctura pode aplicar-se isoladamente ou associada a outras terapêuticas.
A aplicação mais frequente da Acupunctura é em patologias do aparelho musculoesquelético, especialmente as associadas a ataxia, paralisia e/ou dor crónica.
No entanto, aplica-se em inúmeras situações clínicas (4):
1. Patologia digestiva (ex.: quadros de vómito, diarreia, cólica);
2. Patologia respiratória (ex.: coriza, tosse, RAO/COPD);
3. Patologia urinária (ex.: incontinência após ovariohisterectomia, desmame de corticoterapia em tumor de bexiga, terapia complementar em uretrostomia, cistite recorrente);
4. Patologia de pele (ex.: seborreia crónica e recorrente);
5. Patologia neurológica (ex.: lesão medular traumática com ataxia, lesão medular compressiva, síndrome de cauda equina);
6. Distúrbios do comportamento (ex.: tratamento complementar da ansiedade, da agressividade, do comportamento obsessivo);
7. Tratamento alternativo para grupos de risco para os efeitos secundários dos fármacos (ex.: dor de origem musculoesquelética num animal com contraindicações para a administração de anti-inflamatórios não esteroides);
8. Terapia complementar com o objetivo de contribuir para a redução ou suspensão de uma medicação (ex.: analgésicos; anti-inflamatórios esteroides; anti-eméticos; anti-diarreicos);
9. Reanimação.
Protocolo Terapêutico
O protocolo terapêutico é definido de acordo com as características do paciente animal e da sua patologia, orientando a seleção dos pontos de acupuntura, o número de sessões terapêuticas e o intervalo de tempo entre as sessões.
O protocolo ajusta-se de acordo com a evolução clínica do animal, pois depende da sua resposta à terapêutica.
A evolução do caso clínico é preferencialmente avaliada pelo veterinário responsável pelo caso clínico.
Referências Bibliográficas
1. World Health Organization. Acupuncture: Review and analysis of reports on controlled clinical trials; 2003.
2. Schoen AM. Veterinary Acupuncture, Ancient Art to Modern Medicine. 2 ed: Mosby; 2001.
3. Xie H, Preast V. Traditional Chinese Veterinary Medicine. 1 ed: Chi Institute; 2007.
4. Xie H, Preast V. Xie’s Veterinary Acupuncture. 1 ed: Blackwell Publishing; 2007.